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crônica da cidade

Segunda-feira, 18 de maio, 2009

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Encarnação Modernista      
                                              



Severino Francisco



Sempre que penso no espírito experimental, no inconformismo e nos grandes vôos modernistas que animaram os primeiros tempos de Brasília, eu penso no compositor Guilherme Vaz. Esse mineiro de Araguari, reinventado por Brasília, é uma das cabeças mais brilhantes que a cidade forjou. Uma conversa com Guilherme é sempre o espaço para um diálogo polêmico, crítico e provocador. “Grande parte do vazio que se vê nos cidadãos de Brasília é devido a esta ênfase na arquitetura”, costuma provocar Guilherme.


Para ele, a utopia de Brasília tem muito mais a ver com Darcy Ribeiro e Paulo Emílio Salles Gomes, no projeto inicial da Universidade de Brasília, do que com a arquitetura. O pensamento foi expulso da cidade com o regime militar, mas a arquitetura permaneceu.


Não que arquitetura e pensamento sejam incompatíveis. Contudo, na visão de Guilherme, os espaços arquitetônicos não são mais do que “ferramentas” (hardwares), onde poderiam ser exercidos os “pensamentos” (softwares), estes todos com indução direta da UnB original. Essa efervescência dos tempos iniciais da UnB contribuiu para que ele se tornasse um dos mais inventivos criadores de trilhas sonoras do cinema brasileiro.


A marca do seu talento está presente nos filmes Fome de amor (1968), de Nelson Pereira dos Santos, A rainha diaba, de Antônio Carlos Fontoura, O veneno da madrugada, de Ruy Guerra, O anjo nasceu (1969) e Filme de amor, ambos dirigidos por Júlio Bressane. No Instituto de Artes da UnB, Guilherme freqüentou aulas especiais tendo como professores Paulo Emílio Salles Gomes, Nelson Pereira dos Santos, Décio Pignatari, Cláudio Santoro, Glauber Rocha, Rogério Duprat, Athos Bulcão, entre outros. Glauber exibiu na UnB, em pré-estréia, Deus e o diabo na terra do sol e O dragão da maldade contra o santo guerreiro.


Guilherme é ligado em ancestralidades e em futurismos. Morou na França, no auge do período das vanguardas artísticas, e com os índios da tribo Galvão, em Rondônia, quando se cansou do formalismo da arte conceitual e resolveu conhecer os povos pré-históricos do Brasil do período paleolítico. “Os índios são os ET(s) reais”, fala Guilherme,  “pressentimos que não estamos sozinhos, que há outras maneiras de olhar para o universo radicalmente diferente e que os brancos são quebradiços e neurastênicos e frágeis. Seus ossos são pó de nada e sua cultura a ilustração dos seus ossos.”


Ele sustenta que o tropicalismo nasceu do experimentalismo da Universidade de Brasília na virada da década de 1960, no Instituto de Artes da UnB, com as experimentações do maestro Rogério Duprat. Não se surpreende se alguém juntar a música concreta de Peter Schaeffer com o xaxado, como já foi feito mesmo em Brasília. E tanto não surpreende que ele próprio juntou há três meses os vikings com os tapuias no Pateatret, em Oslo, Noruega. Para Guilherme, Brasília não é, decisivamente, uma capital; é um estado de espírito e está em qualquer lugar onde a tradição se encontre com a experimentação.


O tropicalismo, que nasceu em Brasília, foi feito em São Paulo. Brasília está em Pernambuco, onde Chico Science misturou heavy metal e maracatu, ou no Maranhão, onde Zeca Baleiro botou no mesmo caldeirão rap e embolada. Brasília pode ter se tornado uma cidade conservadora. Mas, ela foi inaugurada e vive independentemente de sua geografia.

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